Técnicos do Progresso viram pedintes
A crise financeira em Angola n?o poupa os clubes desportivos. Tido como um dos melhores do pa?s, no tempo das vacas gordas, o Progresso Associa??o Sambizanga come?a a enfrentar problemas de tesouraria. Os cortes na caixa atingiram os trabalhadores administrativos. A inten??o ? manter o balan?o fiscal sem comprometer o desempenho da equipa s?nior masculina de futebol.?
O corte na caixa de tesouraria foi t?o violento como a guerra na S?ria. As consequ?ncias manifestam-se nos lares dos trabalhadores administrativos e t?cnicos. S?o dores inesperadas. As bocas famintas reclamam comida. Todos pedem ?gua. A sede atinge o ?mago. Os l?bios pintados de secura n?o suportam o falso batom. O futuro desenha-se incerto. Sob sol ardente, cansados, apenas o som vazio e tr?mulo ainda reclamam: \\\"Queremos os nossos sal?rios\\\".
S?o pais e estudantes. As fam?lias sentem o preju?zo de uma gest?o que vendou os olhos ao futuro. Sem projec?es.?
No despoletar das conversa?es, os trabalhadores estavam revestidos de esperan?a de dias melhores. Mais de 19 meses ? espera de sal?rios. Hoje, o Amor fugiu no ?ntimo de cada um. A f? seguiu o seu destino. A esperan?a desvaneceu no tempo. Morreu solteira. Ficaram a s?s. Sozinhos. Estendem as m?os aos homens de boa f?. Pedintes.
\\\"Vivemos como mendigos ? espera de esmolas na rua\\\", disse Carlos Hossi, o porta-voz.
De mal a pior. A sobreviv?ncia ? suportada pelas esmolas. Os adeptos, que preservam o amor ao pr?ximo, dividem os recursos familiares com aqueles que sempre deram o seu melhor ao clube do bairro Sambizanga. P?o, ?gua, sal, azeite, arroz e massa esparguete constam do lote de ofertas. N?o s?o caixas. Chegam em migalhas. Unidade. N?o ? partilhado. S?o ofertas individuais. Dinheiro ? moeda.?
\\\"Esperamos na rua, onde cada um dos transeuntes possa deixar-nos um p?o para colocar na boca\\\", esclarece Carlos Hossi.
Os pedintes s?o pais de fam?lias. Trabalhadores que sempre se empenharam para a exist?ncia do Associa??o Progresso Sambizanga. Da lista constam os treinadores dos escal?es de forma??o e t?cnicos administrativos.?
Totalmente desiludida, a secret?ria de direc??o, Eug?nia Ant?nio, presta servi?o h? dez anos ? equipa do Sambila. Com o Natal ? espreita, est? sem solu??o para fazer sorrir a sua fam?lia. O que recorda s?o as conversas com a direc??o de Paix?o J?nior e as suas promessas. Hoje, diz que n?o passou de \\\"um discurso para boi dormir\\\".
\\\"De que serviram as reuni?es atr?s de reuni?es com o presidente do clube, que havia prometido a resolu??o dos nossos sal?rios?\\\", questiona com m?goa ao cora??o.
De olhos profundos, Eug?nia Ant?nio revela o triste cen?rio por que passam os seus colegas: \\\"Muitos foram abandonados pelas esposas\\\".?
O que eram lares, passaram a casas de pessoas solteiras. Filhos deixaram de sentir o calor da noite dos seus progenitores. Fam?lias divididas.
As consequ?ncias encontram outros cantos f?rteis. Eug?nia Ant?nio fala de si mesma: \\\"No meu caso, abandonei a Universidade, quando frequentava o terceiro ano. J? n?o tinha dinheiro para custear as propinas\\\".?
Mais uma angolana perde a oportunidade de ostentar o pseudo-t?tulo de \\\"Doutor\\\" atribu?do aos licenciados. Parou a meio da caminhada. Mas n?o perdeu a luta. Continua.
A GREVE
Liquida??o de sal?rios cai em saco roto
O Associa??o Progresso Sambizanga tem tr?s folhas salariais. A revela??o ? de Cust?dio de Azevedo, supervisor de basquetebol do clube e membro da comiss?o de negocia??o. A 28 anos a servir a equipa do Sambila, o membro da Comiss?o de Trabalhadores afirmou que a equipa s?nior de futebol recebe os sal?rios numa folha ? parte dos trabalhadores administrativos e esses dos treinadores de escal?es de forma??o.?
A causa que leva a direc??o a separar as folhas de pagamentos de sal?rios n?o esclareceu. Lembra apenas que criaram a Comiss?o de Trabalhadores para defenderem os seus direitos junto da direc??o. A sugest?o resultou de um encontro com os gestores.
Depois da exist?ncia da comiss?o interlocutora, mantiveram numa reuni?o com a direc??o. ? mesa de trabalho constava um ?nico ponto: contesta??o do n?o pagamento de sal?rios.
Desde ent?o, os dez integrantes da comiss?o de trabalho travaram reuni?es atr?s de reuni?es e \\\"o moinho n?o se moveu\\\". As ?guas correram e a direc??o n?o se mexeu.
\\\"Durante tr?s meses de negocia?es, tivemos reuni?es atr?s de reuni?es com o fito ?nico de liquidarem parte dos nossos sal?rios em atraso\\\", disse Cust?dio de Azevedo.
O supervisor de basquetebol sustenta que o grupo de trabalhadores est? irritado e inquietante ao saber que \\\"a equipa s?nior de futebol recebe os sal?rios\\\".
\\\"Somos renegados. Essa ? uma atitude inconceb?vel numa institui??o como Progresso do Sambizanga\\\", bradou.
Se a direc??o de Paix?o J?nior n?o chegue a acordo, o grupo de contesta??o n?o vai arredar o p?. Assumem estar aberto ao di?logo.
\\\"N?o vamos trabalhar at? que a direc??o se pronuncie. Estamos ? espera de algu?m de boa f? ligado ? direc??o do clube para as devidas negocia?es\\\", reiterou.
Nas vestes de treinador-adjunto do escal?o de juniores, Carlos Hossi serve o clube h? 19 anos. O porta-voz dos trabalhadores explicou os crit?rios encontrados para a realiza??o da greve no per?odo de 72 horas e cont?nua em caso de n?o haver pronunciamento da direc??o.
\\\"Foram 10 meses de negocia?es com a direc??o do clube para encontrar as modalidades de pagamentos de sal?rios em atraso. J? tivemos cinco encontros com a direc??o. O ?ltimo foi a 7 de Novembro, onde foi lavrado um documento assinado pelo presidente Paix?o J?nior com a promessa de pagamento de um sal?rio a 30 de Novembro. Demos mais tr?s dias de morat?ria. Mesmo assim, at? hoje a direc??o n?o voltou a pronunciar-se \\\" conclui.? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ?